segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Velha infância 6

Minha mãe chama-se Geni e minha avó chamava-se Geny.

Dona Geny, na verdade era tia de minha mãe e a criou. Todas as minhas lembranças de minha vó são muito especiais, pois pra mim ela é uma pessoa especial.

Muita gente me diz, inclusive meu amore Gilberto que fui criada com vó, pois, sou mimada. Não me acho mimada, isso é pura intriga.

Ela era a melhor cozinheira que existiu e minha mãe aprendeu tudo com ela. Mas a comida dela era imcomparável.

Minha mãe conta que ela foi cozinheira na igreja onde ela casou. Minha mãe foi mimada pelos padres da igreja, pois sempre que ela voltava da escola, perguntavam se ela tinha estudado e pediam pra ela levantar a saia e jogavam lá de cima chocolates Kopenhagen (a fábrica era do lado da igreja). Desde criança ela já foi acostumada com o que é bom e minha vó também a mimava.

Eu passava alguns dias das férias com ela na chácara e além de ser mimada, aprontava muito.

Lá vão algumas das minhas artes:

  • Tirava o interfone do gancho e ficava falando baixinho que eu tinha sido sequestrada. Quem passava na rua ouvia tudo;
  • Os detergentes naquela época eram só amarelos, então eu pegava um prato fundo, colocava quase metade do tubo de detergente e ficava batendo com o garfo, fingindo estar fazendo omelete;
  • Naquela época telefone não era comum e eu era a rainha dos trotes;
  • Minha vó fazia bolos fenomenais e fazia também para os cachorros em latinhas de manteiga aviação, eu não queria o nosso bolo, queria o dos cachorros sempre;
  • Na copa da chácara tinha queijo Gouda, que adoro e quando eu queria era só pedir à minha vó, mas...eu queria toda hora. Uma vez comecei a entrar na copa sem ninguém ver e com uma faca fazia buracos no queijo, entrava na despensa, mastigava e depois saía. A Dona Lúcia, patroa da minha avó e madrinha do Duda viu os buracos e falou pra minha vó: "Geny, acho que tem rato aqui, olha como está o queijo, joga fora!" E assim, entrei em desespero porque minha vó tirou o queijo, o bolo e tudo o que ficava na mesa da copa para jogar. Eu não queria deixar e falava "vó não joga, deixa que eu como". Mas ela também cria no rato e me falava que ia dar doença. Olha que prejú!
  • No quarto do filho da Dona Lúcia e de sua nora Mara tinha um frigobar, com vários chocolates importados...experimentei todos...;
  • Assim que for me lembrando de mais coisas vou postando.

Seu Válter era um senhor vizinho da chácara e tinha um filho adulto, com síndrome de down. Naquela época ser down era motivo de vergonha, por parte das famílias, e preconceito dos demais. Eu não tinha preconceito, eu tinha medo. Minha vó sempre que ele aparecia no portão da chácara e eu estava me dizia fala oi pro Paulinho e eu me escondia atrás dela. Mas ele soltava uns gritos...

Tinha também o Seu Waldemar, dono da mercearia da rua, onde minha vó me mandava comprar cigarros, chokitos e tudo o que eu quisesse. Hoje esta mercearia não existe mais, porém os descendentes do Seu Waldemar criaram um boteco preservando as prateleiras e tudo como era naquele tempo.

As compras da chácara eram feitas nesta mercearia e um dia faltaram ovos e minha vó me mandou ir buscar num pé e voltar noutro. Fui correndo, correndo, que bati o rosto na caixa de correio em frente à banca de jornal. Na hora fiquei tão atordoada que só percebi que tinha batido lá quando a Valéria da banca de jornal veio me socorrer, perguntando se eu tinha me machucado.

Disse que não, mas fiquei com o rosto anestesiado durante todo o dia, mas peguei os ovos e voltei pé ante pé.

O Mazzaropi era vizinho de minha avó. Eu sempre ficava passando em frente à sua casa pois queira vê-lo, mas nunca consegui.

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