quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Velha infância 4

Conversando com minha amiga da velha infância Adriana, nos lembramos da costureira do bairro, a Dona Aurelina e sua filha Lurdinha. De quebra não podíamos deixar de lembrar da nora da costureira a Irene e de acordo com as palavras da Adriana era a própria bruxa do 71. Ela encrencava com tudo e com todos. Não era uma pessoa querida por ninguém.

Tem também a Dona Lica, seus filhos e netos que brincavam com a gente, o Cássio, o Ricardo e o Marcelo.

A Dona Alice era a catequista de nossa rua. Tinha as gêmeas Márcia e Marci e outros filhos que não lembro o nome agora. Dona Alice tinha atitudes que eu achava não serem católicas e religiosas como a doutrina que ela queria nos ensinar. Ela e sua filha Marci eram catequistas e o curso era em sua casa. Em meu grupo tinha um casal de irmãos portugueses, a Margareth e o Marcelo que moravam na casa mais bonita da Catarina. Eles eram legais, a gente ia tomar sorvete na casa deles enfim, pessoas simples e do bem. No dia das aulas de catecismo a Dona alice fazia todos os alunos tirarem os sapatos para assistir à aula, mas os irmãos portugueses estavam livres disso. Ela sempre dizia que eles estavam gripados. Aí começaram meus questionamentos a respeito do catolicismo.

Tinha a Dona Zefa e seu Agostinho com seus inúmeros filhos. Seu Agostinho tinha um carrinho em que ele pegava sucatas na rua para vender. Sua filha Quitéria também era catequista. Mas quem brincava com a gente era a Sonia.
Sonia hoje mora longe e dificilmente temos notícias dela. Mas em nossa infância ela sempre esteve presente.
Seu pai, seu Agostinho, guardava dinheiro em uma bota e a Sônia descobriu. Foi o melhor tempo da nossa infância, ela desfalcava a bota do pai e comprava doces para mim e para a Adriana. Com esse dinheiro fomos ao cinema, tomamos geladinhos da dona Regina. Um dia a Adriana pegou dinheiro de sua casa para dar à Sonia, mas sua mãe descobriu e adivinha ela tomou uma bela surra. Rsss

Infelizmente a maioria dos filhos de dona Zefa e seu Agostinho tem problemas, mas tem um deles que é uma figura, o Zé. Muita gente o chama de Zé Dema. É triste quando ele tem suas crises, mas ele se torna uma pessoa muito engraçada e às vezes violento.

A cada hora a gente lembra de alguém e assim vou escrevendo para que as lembranças não se percam. Mas vou dedicar um post a cada um que fez parte da minha infância e faz parte da minha vida.

Meus pais, minhas avós maternas (é tive várias), meu avô materno, meus avós paternos, meus irmãos, minhas amigas e amigos e assim as lembranças vêm aflorando e os posts vão tomando corpo.

Não me preocupo com ordem cronológica, somente vou postando as lembranças que me vem.

Velha infância 3

No post anterior, esqueci de falar da Dona Judite e "Seu Bastião", padrinhos do meu irmão Fábio. Eles eram avós da Gilmeire e da Gisele, que nesta época moravam em Guaianases.

Entre a casa de meus pais e a deles tinha um terreno que seu Bastião tomava conta para seu primo Serafim, que a Gilmeire falava Sarafim. Neste terreno, ele guardava sua perua e tinha um barracão de ferramentas e quando a Gilmeire vinha nas férias brincávamos de casinha e corríamos atrás das galinhas e seus pintinhos.

Eu e meu irmão Eduardo, o Duda, acordávamos todos os dias às 5 da manhã, com o seu Bastião ligando sua perua e dando várias aceleradas pra ela esquentar. Afff

Ao lado da casa da Dona Judite, onde hoje tem uma "puta" casa era um terreno baldio que todos chamávamos de mato, pois era depósito de entulho, lixo e tinha muito mato. Era lá que a gente se escondia quando brincava de esconde-esconde e quando a gente ia jogar pedras na casa da Dona Laís, que dava fundos para o mato, toda vez que o Silvinho nos enchia.

Essas pedras sempre acabavam com a Dona Laís indo reclamar e a gente levando uns tapas da minha mãe Geni. Mas tudo isso era legal.

É difícil escrever sobre pessoas que já desapareceram, é triste, mas é o ciclo natural da vida.

Tinha também a esquina da Dona Dirce, mãe do Pedrinho e do Alfredo, dois rapazes bem apessoados e que trabalhavam no banco. Isso era muito chique e dava status naquela época.

Eu e a Cleusa sempre brincávamos de casinha nesta esquina, depositando nossos pratinhos, panelinhas e joguinhos de chá, varríamos o chão e invariavelmente o chato do Luiz Carlos vinha e chutava tudo.

Uma vez dei uma pedrada bem no meio da testa dele, fez um furo e sangrou. Vcs acreditam que apanhei por isso? Tenho certeza que toda a criançada da rua se sentiu vingada. Mãe muita injustiça ter apanhado por fazer justiça.

Quem participava sempre de nossas brincadeiras era a saudosa Andréia, neta da Dona Alzira, outra vizinha nossa.

Ah e tinha mais e mais crianças na rua, a televisão era escassa nesta época...rsss

Tinha a Simone, o Américo, o Marcos (Well) e depois de um tempão o Sérgio. Filhos do saudoso Ademar e da Gilda.

Moraram também em nossa rua o André, seu irmão Rosco (não sei o nome, foi o Fábio que deu este apelido por causa da série Os Gatões).

Nossa casa é de esquina e não era como é hoje, os muros eram baixos, eram 2 quartos, sala, cozinha e banheiro e a porta da cozinha não tinha chave. A gente fechava com "tramela", invenção do meu pai e meu amor maior Isaque. Meus pais tinham na rua particular uma casa que alugavam, primeiro pra Zéfinha de Pedrinhas-SE (ela ficava 40 dias sem levantar, sem tomar banho e sem lavar os cabelos depois do parto), minha mãe ajudava essa coitada. Depois veio a Graça e seus 3 filhos e depois a Solange, a Etelvina e o Vicente. Agora esta casa foi derrubada e hoje é o Bar do Isaque!!!!!

Velha Infância 2

Nesta antiga Vila Santa Catarina passaram muitas pessoas em nossa vida, mas naquela época a gente nem se dava conta do amanhã só queríamos brincar.

A Tereza e seus filhos Hélder e Vítor, a Dona Laís com todos os seus, mas convivi mais com o Silvinho e o Betinho, a saudosa Dona Luci, sua fantástica salada de maionese e seus filhos Joaquim, que eu chamava de Tatinho, Paulo, que hoje é Odissey e o Luís Carlos, o encrenqueiro de plantão. Tinha também a Dona Ady e seus filhos Carlos, que a gente chamava de Gordo, a Cláudia e a Cleusa. Ah, na época da novela Estúpido Cupido, o Gordo organizava concursos onde nós éramos as misses, mas eu queria ser sempre a Maria Tereza Motta (mocinha da novela). A Téia, com o Maurício, a Luciene, o Márcio e bem depois o Luciano. A Ester, com o Vado, o Tuti e a Nana, a Graça com o Edson, a Silvana e o Júlio, a Alderize com a Adriana, o Humberto e depois a raspinha Gabriela. A Dona Neusa com seus gêmeos David e Daniel, a Loide e a Lúcia e o Luciano. A Dona Imaculada e os gêmeos Eduardinho e Nina. A saudosa Dona Carminha e sua Inês, Ciro, Milton, Carlindinho e André. O tempo foi passando, a gente crescendo e novos vizinhos vieram nos fazer companhia nas brincadeiras.

Desculpe se esqueci de alguém, mas a gente "causava" na rua 3. É, era assim que nossa rua Barão de Santa Marta se chamava. Da nossa casa a gente via a pista do aeroporto de Congonhas e ficávamos sentados por horas na calçada do Luciano, encantados com o vaívem dos aviões. Hoje os prédios não nos deixam mais ter esta visão. Ficamos somente com o barulho, que já nem ouvimos mais. Acostumamos.

Depois da EMEI Machado de Assis, íamos estudar o primário e ginásio no Comenius. Quando entrei lá era uma escola feia e descuidada que tinha como diretora a Dona Ester Góes, depois o Sr. José. Ela sempre era invadida pela turma do Tutinha (uma turma de trombadinhas), que era extremamente temida, mas aos poucos ela foi sendo extinta.

Quando eu estava na terceira série entrou um novo Diretor no Comenius, o temido "Seu Antonio", ele trabalhou tão bem e nos ensinou a disciplina que a escola foi reconhecida pelo governo de SP como Escola Modelo e introduziu o ensino de segundo grau na escola. "Seu Antônio" dava chacoalhões se a gente não estivesse alinhado na fila, falava bravo, cuspindo pra todo lado e chamava as meninas de Maria e os meninos de Zé. Dava também uns pedala Robinho nos mais bagunceiros.

Mesmo com sua truculência ele era querido e hoje digo que ele foi um educador nato, pois colocou muitas crianças no eixo e fez o Comenius ser uma escola padrão.

Muitos anos depois, na época da faculdade, cruzei com o "Seu Antônio" de novo, mas na posição de professora. É, eu dava aulas de química pra ajudar a pagar a faculdade. Ele já estava meio velho e doente, mas com a energia de sempre.

Se aposentou e vieram outros diretores e todo o trabalho que ele fez está se esvaindo. Creio que não por culpa da direção e professores, mas o perfil das crianças e adolescentes mudou. A formação dos professores não. Uma pena.

Velha infância 1

Nasci, cresci e me tornei gente de verdade na Vila Santa Catarina. Era bem diferente da Catarina de hoje, com seus bancos, mini-shoppings, Mc Donalds e toda uma infraestrutura para que, se quisermos, nem saimos de lá.

Cresci numa Catarina de ruas de terra, em que só existia a padaria da Coriolano Durand. Meus pais faziam compras no Gonçalves Sé (atual Pão de Açucar Washington Luiz) e lá a gente comia coxinha e voltava de perua, pois ainda não tínhamos carro. Ah e as famílias se uniam pra fazer as compras e economizar na perua. Saudades...

Todas as crianças estudavam na EMEI Machado de Assis e não tinha o "luxo" da perua escolar, a gente ia e voltava a pé debaixo de sol ou chuva.

Todo início de ano a gente ia tirar foto 3x4 para as matrículas escolares no fotógrafo da antiga Souza Dantas, pois só existia ele e as fotos eram em preto e branco.

A gente brincava de esconde-esconde, queimada, pega-ladrão, jogava taco e presentes nós lá de casa só tínhamos no aniversário, dia das crianças e natal. Até que a gente era privilegiado, pois, a maioria da criançada só ganhava no natal.

Tudo o que acontecia na rua era uma festa pra nós. Tínhamos horário pra tudo: hora de ir pra escola, hora de almoçar, hora de fazer dever, A HORA DE BRINCAR e às 17h00 entrar pra dentro, tomar banho, jantar, assistir TV (Parecia um caixote e era em PB) e dormir para no dia seguinte começar tudo de novo.

Meu irmão Eduardo e eu vivemos exatamente desta forma, já o Fábio e a Nathália vieram numa época de mais progresso e mais facilidades. Afinal são 8  e 18 anos de diferença entre eu e eles, respectivamente.

Apesar da diferença, alguns costumes e valores de meus pais foram passados igualmente aos filhos. Íamos à missa  na igrejinha velha N.S.Catarina que foi destruída e devia ter sido tombada, fizemos catecismo, minha irmã prosseguiu fazendo crisma e até foi anjo do Pe. Marcelo. A dona Joanília, mãe da Gisele, minha amiga e dinda de casamento a chamava de anjo Nathália, sempre achei muito engraçado.

Meus pais sempre priorizaram nossos estudos, procuraram sempre nos mostrar que existia um caminho bom e um ruim e que devíamos seguir sempre o caminho bom mesmo que ele fosse mais difícil e extenso.

Hoje comecei a contar de verdade as "Histórias de Regina" e olha que vai dar página pra escrever, mas espero que eu consiga expressar sempre tudo o que vivi. Até o próximo post!